Resumo da entrevista
O entrevistado versou sobre sua militância política, relacionando-a à sua breve experiência como jogador profissional de futebol e sua relação com o esporte no período da ditadura civil-militar no Brasil. Em 1964, logo após o golpe, Joel exilou-se na Bolívia e, sem dispor de recursos financeiros, apostou na carreira de jogador de futebol. Foi contratado pelo técnico brasileiro Vinícius Ruas, também exilado, que à época comandava o Fútbol Club Bolívar. Alguns meses depois, decidiu abandonar o esporte e mudou-se para o Chile, que representou sua segunda residência no exílio. Ao retornar para o Brasil em 1967, deu continuidade à sua militância política e em 1968 passou a apoiar a Ação Libertadora Nacional (ALN) até sua prisão em 1972. A respeito do técnico João Saldanha, que esteve à frente da seleção brasileira até às vésperas da Copa de 1970, Joel relembrou a admiração e apoio dados a Saldanha por aqueles que, como ele, se opunham à ditadura. De acordo com o entrevistado, João Saldanha, além de competente tecnicamente era também conhecido por sua ousadia e coragem, opondo-se publicamente à repressão. Com efeito, Saldanha, que era membro do Partido Comunista Brasileiro (PCB), acabou sendo desligado do posto de técnico, que foi então assumido por Mário Zagallo que, segundo Rufino, era, em termos ideológicos, o oposto de Saldanha. Deste modo, o comando da seleção afinou-se à lógica da ditadura, militarizando a CBF e os próprios esquemas de jogo e treinamento. Joel, como militante de esquerda, apesar de ter plena consciência do uso do futebol como instrumento político a favor da ditadura, tinha também a compreensão de que no Brasil o futebol tem, até hoje, uma dimensão de arte popular e, nesse sentido, legitimou ideologicamente sua torcida a favor do Brasil em 1970.
