Isaac Abramovitch
Nome completo
Isaac Abramovitch
Cronologia
1936-2012
Gênero
Masculino
Perfil histórico
Instâncias da atuação na repressão
Perfil de Atuação
Biografia
Médico-legista do Instituto Médico Legal do estado de São Paulo (IML/SP). Teve participação em diversos casos de emissão de laudos necroscópicos fraudulentos, tortura e ocultação de cadáver de militantes políticos. Recebeu a Medalha do Pacificador em 1973. Os processos de colaboração entre órgãos da repressão e o sistema médico-funerário durante a ditadura foi um tema de investigação para a CNV e em Relatório Final há importantes passagens sobre seus efeitos nos processos de desaparecimento de presos políticos. Em relatório, por exemplo, relaciona-se que o processo de necropsia e liberação dos corpos de presos políticos era conduzido, de modo geral, pelas mesmas pessoas. O trabalho de legistas de confiança da repressão garantia a tomada de uma série de precauções para impedir a localização dos corpos e a apuração do ocorrido. Depoimentos de funcionários do IML indicam também a orientação recebida dos órgãos de repressão para que as fotos da necropsia não fossem esclarecedoras, devendo eles registrar apenas a cabeça da vítima. Além disso, o tratamento dado a presos políticos no IML incluía menor tempo na geladeira, para que os corpos fossem liberados mais rapidamente, descumprindo o procedimento padrão de manter o corpo por três dias, em espera de familiares. O próprio Isaac Abramovitch já confirmou em depoimento à CPI da Vala de Perus, aberta na Câmara de São Paulo em 1990, que assumiu na época o compromisso de colaborar sem restrição com os órgãos de repressão política. Exemplos podem ser destacados de sua participação nesse processo de colaboração com desaparecimentos e falsas versões de morte. No caso de Iuri Xavier Pereira, morto em 1972, o laudo necroscópico assinado pelo médico Abramovitch descreve três tiros em seu corpo. Perícia realizada no âmbito das investigações da CNV verificou, no entanto, que vários outros tiros também foram desferidos quando ele já se encontrava no chão. Assim, os disparos contra Iuri seriam entre seis e nove – e não três, como descrito no laudo de Abramovitch. A omissão de dados a fim de reforçar a versão falsa era também prática habitual de médicos legistas coniventes. Outra prática importante desse sistema foi o uso de nomes falsos para enterrar militantes políticos assassinados. A ação “permitia o sepultamento rápido das vítimas, sem a presença de possíveis familiares, o acobertamento das torturas sofridas, das autópsias falsas ou não realizadas pelos legistas coniventes, e o sepultamento de desaparecidos políticos”. Para dificultar a identificação, os órgãos de segurança registravam identidade falsa. Alex de Paula Xavier Pereira e Gélson Reicher, militantes da ALN assassinados em 1972, foram enterrados no Cemitério Dom Bosco, em Perus, com os nomes falsos de João Maria de Freitas e Emiliano Sessa. As requisições de exames necroscópicos foram lavradas com os nomes falsos e traziam os verdadeiros escritos à mão no documento datilografado. Os dois militantes foram executados sumariamente por agentes da repressão, como comprovado pelo trabalho pericial da CNV, que desmentiu a versão oficial de tiroteio. Nesse caso, o IML mais uma vez corroborou a versão policial das mortes e encaminhou os corpos para enterro como indigentes e sob identidade falsa, em Perus. Há ainda uma peculiaridade no caso de Gélson. Um dos médicos responsáveis por assinar seu laudo de exame necroscópico, Isaac Abramovitch, era vizinho de sua família e conhecia Gélson desde criança, e era também professor na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde Gélson estudava. Ainda assim, o médico ao não avisar a família de Reicher sobre o falecimento, permitiu ainda que o militante fosse enterrado como indigente (pessoa não reclamada).