Entrevista coletiva com Cristine Takuá e Carlos Papá
Título
Entrevista coletiva com Cristine Takuá e Carlos Papá
Código da entrevista
C158
Coleção
Entrevistados
Data da entrevista
07/09/2019
Resumo da entrevista
Em entrevista, coletiva e pública, realizada no âmbito da exposição temporária Meta-Arquivo: 1964-1985 por meio do projeto Escola de Testemunhos, desenvolvido pelo Grupo Contrafilé, Cristine Takuá, proveniente da terra indígena Rio Silveira, situada no litoral norte do estado de São Paulo, inicia sua narrativa refletindo sobre o papel da escola. Para a entrevistada, que é educadora em sua comunidade, a escola tradicional omite aspectos relevantes da história do Brasil, principalmente, com relação à violência perpetrada contra os povos indígenas, bem como perpetua o apagamento e a invisibilidade dessa violência até hoje – inclusive quando nada menciona sobre os povos indígenas durante a ditadura civil-militar brasileira. Takuá destaca o contraste que existe com a concepção de escola dentro de sua comunidade, que atua por meio da transmissão dos conhecimentos pela memória ancestral. Sobre o período ditatorial, a entrevistada destaca os abusos praticados pela ditadura contra os Maxakali e os Krenaks, que foram submetidos a campos de concentração e reformatórios onde eram torturados e violentados. Conclui refletindo sobre a manutenção da ditadura no Brasil por meio da violência, do racismo e do preconceito, motivos pelos quais acredita que sua missão seja contar esses relatos para que o povo brasileiro não tenha coragem de clamar pela volta da ditadura. O outro convidado da mesa, Carlos Papá, por sua vez, conta que nasceu em 1970 e que na época, por imposição da ditadura, não pôde ser registrado com seu nome verdadeiro Papá Mirim Poty, recebendo o nome de Carlos Fernandes Guarani. Em sua fala, Papá foca no tema do respeito à diversidade. Segundo ele, o povo brasileiro desconhece a pluralidade dos povos indígenas, com diferentes etnias, línguas, crenças e culturas. Destaca que tal como as populações urbanas possuem os seus códigos, essas comunidades tradicionais também possuem os seus próprios códigos, que são os códigos da floresta, do território que habitam. Portanto, quando se fala em integração do indígena à sociedade, Papá afirma que isso necessariamente depende de amor ao próximo e do respeito à diversidade de crença e de pensamento, entendimentos que acredita faltarem à sociedade brasileira. Papá afirma, por fim, que a ditadura persiste para os povos indígenas e exemplifica ao constatar que em sua aldeia nunca houve a figura do cacique, e que essa realidade é uma imposição da ditadura no sentido de mitigar o poder do pajé espiritual e que até hoje sua aldeia conta com uma administração central. Reflete que são violências e imposições como essas que perduram como legado da ditadura para as populações indígenas até os dias atuais.
Entrevistadores
Grupo Contrafilé (Joana Zatz Mussi, Cibele Lucena, Rafael Leona)
Duração (minutos)
49
Local da entrevista
SESC Belenzinho
Como citar
TAKUÁ, Cristine; PAPÁ, Carlos. Entrevista realizada para exposição temporária Meta-Arquivo: 1964-1985 por meio do Projeto Escola de Testemunhos. Entrevista concedida em 07/09/2019 para o Grupo Contrafilé (Joana Zatz Mussi, Cibele Lucena, Rafael Leona) em parceria com o Memorial da Resistência de São Paulo e SESC Belenzinho.