Dados gerais
Título
Entrevista com Milton Barbosa
Código da entrevista
C118
Entrevistados
Data da entrevista
20/09/2016
Resumo da entrevista
Em seu testemunho, Milton falou sobre sua primeira experiência de militância política, inserida no âmbito do Movimento Estudantil. Em 1974, quando deu início a faculdade de Economia na USP, envolveu-se com a luta de oposição à ditadura e uniu-se à Liga Operária (LO). A respeito deste período, falou sobre a presença majoritária de homens e mulheres brancas na Universidade e como a discriminação se fazia presente naquele ambiente, motivando um pequeno grupo de estudantes negros a tratar publicamente das questões raciais. Em 1978, deixou a Universidade e também a Liga Operária para dedicar-se mais a fundo à militância do Movimento Negro, com o qual se identificava de forma mais genuína. Ao longo da década de 1970, envolveu-se com diversas expressões de valorização e afirmação da cultura e da identidade negra. Entre os lugares de memória citados na entrevista como espaços agregadores e mobilizadores deste processo estão: a Escola de Samba Vai-Vai, o Clube Recreativo Coimbra, o Centro de Cultura e Arte Negra e a Praça Ramos de Azevedo. Nessa região do centro da cidade, marcante para a sociabilidade negra nos anos 1960 e 1970 distribuiu, ao lado de outros companheiros, exemplares do jornal Árvore das Palavras, representante da imprensa negra da época. Ao lado de outros companheiros, fundou o Movimento Negro Unificado (MNU), em sete de julho de 1978. O ato público que marcou sua fundação foi celebrado nas escadarias do Teatro Municipal, com a presença de milhares de pessoas. Milton comentou ainda, o significado das celebrações oficiais do dia 13 de maio, realizadas no Largo do Paissandu, afirmando que elas não se contrapunham à sustentação do mito da “democracia racial”, importante bandeira da ditadura contra a qual o MNU se insurgiu. Nesse sentido, relatou episódios de vigilância repressiva, chamando atenção para seus aspectos racistas, já que a polícia política, para desqualificar a ação política do movimento negro, procurava enquadrá-los não em “crimes políticos”, como fazia com os opositores em geral, mas em “crimes comuns”. Por fim, reclamou a falta de apoio e o preconceito manifestados por grande parte da esquerda brasileira ao Movimento Negro e a outros grupos marginalizados e criminalizados que buscaram se manifestar durante a ditadura. Segundo Milton, a análise que a esquerda fazia sobre as chamadas “minorias” era de que estes grupos enfraqueciam a luta central e dividiam o proletariado.
Entrevistadores
Luiza Giandalia | Desirée Azevedo
Duração (minutos)
89
Operador de câmera
Ivan Trimigliozzi
Local da entrevista
Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo/SP
Como citar
BARBOSA, Milton. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Luiza Giandalia e Desirée Azevedo em 20/09/2016.