Dados gerais
Título
Entrevista coletiva com João Silvério Trevisan e Hailey Kass
Código da entrevista
C159
Coleção
Entrevistados
Data da entrevista
05/10/2019
Resumo da entrevista
Em entrevista, coletiva e pública, realizada no âmbito da exposição temporária Meta-Arquivo: 1964-1985 por meio do projeto Escola de Testemunhos, desenvolvido pelo Grupo Contrafilé, João Silvério Trevisan conta sobre sua trajetória pessoal durante a infância, sua relação parental conturbada, os preconceitos e as violências sofridas nessa época. Com foco na descoberta de sua sexualidade, um dos eixos norteadores de sua fala refere-se à necessidade de desconstruir os dogmas existentes, inclusive dentro de nós mesmos. Sobre o contexto da ditadura civil-militar, Trevisan narra seus embates pelo reconhecimento da luta homossexual dentro da esquerda, denominada convencional, ortodoxa e hegemônica, que considerava as reivindicações por direitos de gays, lésbicas e negros uma luta menor em relação à luta da classe trabalhadora. Ademais, conta sobre sua experiência de exílio em Berkeley/EUA, quando entrou em contato com os movimentos homossexuais, feministas e antirracistas, nos quais se inspirou para ajudar a fundar, no Brasil, um movimento de luta pelos direitos homossexuais: o Grupo Somos. Hailey Kass, por sua vez, reflete que, atualmente, a maior visibilidade e representatividade das diversidades sexuais se deve, em grande medida, a indivíduos pioneiros como Trevisan. Porém, avalia que ao mesmo tempo em que há maior visibilidade para essas questões, o capitalismo se apropria delas de forma oportunista, como interesse em um novo nicho de mercado. Na visão da entrevistada, as organizações e partidos políticos de esquerda hoje estão mais abertos para as questões LGBT, principalmente por parte da juventude. E isso se traduziu, nas últimas eleições, no maior número de candidatas mulheres, trans e negras na história democrática brasileira. Assim, Hailey afirma que a manutenção dessa visibilidade depende da ocupação de todos os espaços de debate, incluindo as organizações de esquerda, para que não fique restrita somente às propagandas. Ela defende que seja colocado explicitamente que a população LGBT também é classe trabalhadora, também sofre com a exploração pelo capitalismo, além da opressão da sociedade heterossexual. Para ela, a sociedade heteronormativa é, na verdade, um regime de poder. Hailey conclui evidenciando a hipocrisia da sociedade brasileira, pautada na família tradicional, bem como critica a existência de transfobia e LGBTfobia, seja de forma violenta ou de maneira velada. Ao final dos testemunhos, segue um breve debate entre os entrevistados.
Entrevistadores
Grupo Contrafilé (Joana Zatz Mussi, Cibele Lucena, Rafael Leona)
Duração (minutos)
84
Local da entrevista
SESC Belenzinho
Como citar
TREVISAN, João; KASS, Hailey. Entrevista realizada para exposição temporária Meta-Arquivo: 1964-1985 por meio do Projeto Escola de Testemunhos. Entrevista concedida em 05/10/2019 para o Grupo Contrafilé (Joana Zatz Mussi, Cibele Lucena, Rafael Leona) em parceria com o Memorial da Resistência de São Paulo e SESC Belenzinho.