Dados gerais
Título
Entrevista com Kelly Cunha
Código da entrevista
C184
Entrevistados
Data da entrevista
07/08/2023
Resumo da entrevista
Kelly Cunha inicia a entrevista contando que é a caçula de sete irmãos. Aos três anos de idade, seu pai faleceu, cabendo a sua mãe criar os sete filhos na Vila Leopoldina. Conta que na adolescência sofria bullying por parte dos seus irmãos mais velhos. Nesse período, começou a cortar cabelos na vizinhança, profissionalizando-se na escola de cabelereiros do Instituto Uana, na Lapa. Em 1965, foi contratada pelo salão Taluhama, que funcionava na Rua Augusta, o que propiciou certa ascensão social. Relata sobre a relação próxima com sua mãe, que viveu com Kelly até o seu falecimento, e com um de seus sobrinhos, criado por ela. Conta que em 1967 estreou profissionalmente como artista transformista na boate Top Rum, que posteriormente mudaria de nome para Nostro Mondo. Três anos depois, foi convidada para compor o elenco do espetáculo Les Girls, em temporada em São Paulo, no Teatro das Nações, por ser parecida com a Rogéria. Conta como fazia para conciliar o trabalho no salão com sua carreira artística. Relata que 1970 foi um ano terrível de repressão às travestis. Relata sobre a proibição de travestis nos festejos de carnaval em todo o país, o que fez com que ela fosse para Poço de Caldas, interior de Minas Gerais. Em 20 de junho de 1970, na véspera da final da Copa do Mundo, Kelly e suas companheiras de espetáculo foram presas na saída do teatro e levadas para a sede do Dops/Sp, onde ficaram encarceradas por 4 dias, sem sofrer violência física. Aponta que sua experiência foi distinta das travestis que se prostituíam na rua, sobretudo na década de 1980. Conta sobre sua amizade com Jaqueline Welch. Narra sua trajetória nos concursos de beleza, desde a sua primeira vitória no Miss Boneca Paulista, em 1968, o clima de rivalidade nos bastidores e suas referências no mundo da moda. Relata os lugares que frequentava na noite de São Paulo para divertir-se: Porão Nove, Entendis, K-7, Top Rum. Conta sobre os efeitos da epidemia de HIV/Aids no seu entorno profissional, a perda de amigos e o clima de preconceito e desinformação que imperava nos primeiros anos da epidemia. Relata os operativos policiais presenciados por ela na noite de São Paulo. Conta suas percepções sobre a diferença de tratamento recebido entre as travestis por parte da polícia. Relata suas participações nos programas televisivos de Sílvio Santos, Ratinho, Tom Cavalcante e Luciana Gimenez. Conta seus incômodos com o livro “Rainhas da Noite” e as versões apresentadas no livro. Analisa as mudanças na noite de São Paulo, entre o final dos anos 1960 e o presente. Relata que algumas casas noturnas não permitiam a entrada de travestis.
Entrevistadores
Angel Natan, Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri
Duração (minutos)
118
Operador de câmera
Victor Bacilieri
Local da entrevista
Memorial da Resistência de São Paulo
Como citar
CUNHA, Kelly. Entrevista sobre gênero, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo. Entrevista concedida a Angel Natan Fermino dos Anjos, Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri, em 07/08/2023, por meio da parceria com o Acervo Bajubá.
Assuntos: Eventos
Assuntos: Lugares
Boate Nostro Mundo | Boate Medieval | Rua Augusta | Boate Corintho | Casa de Apoio Brenda Lee