Dados gerais
Título
Entrevista com Marcinha do Corintho
Código da entrevista
C165
Entrevistados
Data da entrevista
21/07/2022
Resumo da entrevista
A entrevistada inicia o seu testemunho relembrando a infância difícil em Minas Gerais, o falecimento precoce da mãe e sua vinda pra São Paulo para morar com a avó. Tendo que voltar à MG quando a avó ficou doente, Marcinha relata seu período vivendo com o pai homofóbico que, na época, já tinha outra família e filhos. Nesse período com o pai ela habitou um quartinho fora da casa e passou a conviver com a fome e com abusos sexuais frequentes, situação que se manteve inclusive quando ela foi encaminhada, por ele, para a então Febem. Diante da violência contra a neta, a avó conseguiu trazê-la de volta à São Paulo e denunciou o pai abusador, que acabou preso. Em São Paulo Marcinha voltou a estudar, mas conta que teve que abandonar o colégio porque apanhava muito dos demais alunos. Ainda jovem começou a fazer espetáculo e aos 16 anos mudou-se pra Madri. Na Espanha ganhou dinheiro fazendo programas, mas em poucas semanas foi presa e extraditada para o Brasil, trazendo apenas a roupa no corpo. Em São Paulo voltou a fazer espetáculos nas casas noturnas Corintho e Medieval. Deste período Marcinha destaca também a repressão policial, contando que os policiais cortavam o cabelo das travestis. Citou o delegado Wilson Richetti e sua prática de fechar o Largo do Arouche para bater nos gays e travestis que eram depois fichados por vadiagem. Voltando à Europa pelas condições de vida no Brasil, Marcinha morou por 30 anos em Milão fazendo espetáculos e prostituição de luxo, mas voltou para o Brasil depois que colocaram fogo em seu apartamento. Relatou como descobriu o HIV, o preconceito, a rejeição e as recaídas que quase a levaram a morte. Marcinha destaca que, ao voltar para o Brasil, foi acolhida por Gretta Sttar, amiga que a tem acompanhado no tratamento do HIV. Faz um elogio ao tratamento da doença no Brasil, considerando-a superior ao oferecido na Europa, afirmando sentir que o preconceito no país diminuiu um pouco. Por fim, relata que recentemente voltou a estudar com incentivo de Gretta Sttar e refletiu sobre o Brasil atual, a pobreza, a miséria e a violência no centro da cidade, razão pela qual mantém o desejo de voltar à Europa.
Entrevistadores
Yuri Fraccaroli | Julia Gumieri
Duração (minutos)
65
Operador de câmera
Jamerson Lima
Local da entrevista
Memorial da Resistência de São Paulo
Como citar
CORINTHO, Marcinha do. Entrevista sobre gênero, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Entrevista concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 21/07/2022 no Memorial da Resistência de São Paulo por meio do “Projeto Percursos Curatoriais Gênero e Ditadura” desenvolvido em parceria com o Acervo Bajubá.