Dados gerais
Título
Entrevista com Maria Aparecida dos Santos
Código da entrevista
C166
Entrevistados
Data da entrevista
24/08/2022
Resumo da entrevista
Maria Aparecida dos Santos, Iyá Cida, fala sobre sua infância e a importância da mãe, uma pessoa simples, mas muito sensível às questões sociais e coletivas. Relata que ela e seus irmãos estudaram em escola particular católica porque a mãe conseguiu bolsa para todos e, por isso, teve um bom estudo, mesmo sofrendo discriminação por parte das freiras. Conta que a mãe só se alfabetizou adulta. Acredita que sua casa era vigiada, durante a ditadura, por causa da mãe que tinha uma atividade comunitária intensa do que pelo pai que era policial civil. Essa vigilância foi relatada por vizinhos que viram pessoas fotografando a casa. Cida começou a trabalhar com 15 anos casando-se aos 18 anos. Relembra suas atividades políticas desde o debate com primos na Igreja dos Homens Pretos, após a missa, os encontros do movimento de alfabetização em Santo Amaro, as manifestações pelas Diretas Já! e a participação no PT. Versa sobre sua religiosidade, tendo sido católica batizada e que a relação intensa com religiões de matriz africana se deu mais tarde. Conta brevemente essa trajetória da família, desde o início na Umbanda até chegar no Candomblé, uma relação tão importante que hoje todos os filhos e netos também participam. Cida fala sobre as mudanças no bairro, a relação amistosa com a vizinhança, o cuidado que tem pra manter essa relação participando das festas juninas da rua, conversando com todo mundo e mantendo a casa aberta a todos. Avalia que há uma mudança no perfil dos frequentadores da casa, hoje mais jovens e mais envolvido com a casa. Fala sobre as discussões políticas promovidas pela casa e a abertura para políticos com identidade, como a Leci Brandão, e ressalta a necessidade de discussão política partidária em ano de eleição. Fala da sua percepção sobre a tecnologia que foi mudando com a experiência vivida durante a pandemia. Reflete sobre as religiões de matriz africana e a questão de gênero, a importância da mulher, mas também a presença do machismo perceptível quando se dá mais visibilidade aos babalorixás em detrimento das iás. Por fim, conclui enfatizando que o momento parece com o pré-64. Provocada, avalia que o mito da democracia racial não permite que o negro se reconheça como negro. Reflete sobre a mídia e o papel que ela cumpre sobre a sociedade, que é preciso estar atento ao que ela veicula.
Entrevistadores
Yuri Fraccaroli | Julia Gumieri
Duração (minutos)
120
Operador de câmera
Jamerson Lima
Local da entrevista
Memorial da Resistência de São Paulo
Como citar
SANTOS, Maria Aparecida dos. Entrevista sobre gênero, raça, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Entrevista concedida a Yuri Fraccaroli e Julia Gumieri em 24/08/2022 no Memorial da Resistência de São Paulo por meio do “Projeto Percursos Curatoriais Gênero e Ditadura” desenvolvido em parceria com o Acervo Bajubá.