Dados gerais
Título
Entrevista com João Silvério Trevisan
Código da entrevista
C119
Entrevistados
Data da entrevista
06/10/2016
Resumo da entrevista
O entrevistado falou sobre sua trajetória de militância exercida com foco na luta pelo fim da discriminação e pela igualdade de direitos dos homossexuais. No início na década de 1970, após deixar o seminário onde vivera por dez anos, João assumiu sua homossexualidade e envolveu-se profissionalmente com o Cinema. Estabeleceu diversos contatos através da Cinemateca Brasileira, onde circulavam profissionais envolvidos politicamente com o Partido Comunista Brasileiro (PCB). Neste contexto, escreveu e dirigiu seu primeiro longa-metragem, intitulado Orgia, ou o Homem que deu Cria, que foi censurado pela ditadura. Sentindo-se sufocado por uma sociedade conservadora respaldada pela repressão, João decidiu deixar o Brasil em 1971. Seguiu viagem para o México e, após um ano, mudou-se para Berkeley, na Califórnia, onde permaneceu até 1974. Segundo relatou, Berkeley emanava um clima de intensa efervescência cultural marcada pela emergência do movimento feminista e das comunidades negra e gay que, bem articuladas politicamente, se expressavam de forma mais livre, construindo novos paradigmas políticos e comportamentais. Ao retornar para o Brasil, profundamente marcado por aquela experiência, deparou-se com um país mergulhado na repressão e na censura. Diante deste quadro, se inseriu em algumas formas possíveis de rearticulação até que em 1978, ao lado de alguns companheiros, fundou o primeiro jornal gay do país, o Lampião da Esquina. Com influências do jornal americano Gay Sunshine, o periódico tratava de questões diversas ligadas ao universo gay e denunciava o preconceito e a violência social contra os homossexuais de forma sempre irreverente. Segundo informou, a distribuição e a comercialização do jornal eram difíceis de articular na conjuntura política e social do país. A exemplo disso relatou a ameaça de processo que o jornal sofreu, ao ser acusado de atentar contra a moral e os bons costumes, com base na Lei de Imprensa. Neste mesmo ano, João também participou da fundação do Grupo SOMOS de Afirmação Homossexual, que surgiu após o impacto provocado por um encontro realizado na USP chamado Semana das Minorias. Tanto o jornal quanto o grupo foram extintos em 1981, deixando um importante legado dentro do movimento social. Por fim, João refletiu sobre a condição imposta ao homossexual no período da ditadura e, a partir de uma análise crítica, tratou a respeito da postura da esquerda frente ao movimento, apontando as expressões do preconceito existente e a dificuldade inicial de incorporar as demandas específicas desta comunidade.
Entrevistadores
Luiza Giandalia | Desirée Azevedo
Duração (minutos)
124
Operador de câmera
André Oliveira
Local da entrevista
Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo/SP
Como citar
TREVISAN, João Silvério. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Luiza Giandalia e Desirée Azevedo em 06/10/2016