Dados gerais
Título
Entrevista com Leslie Denise Beloque
Código da entrevista
C134
Entrevistados
Data da entrevista
29/09/2017
Resumo da entrevista
Durante a entrevista, Leslie nos falou sobre sua trajetória de militância política iniciada em 1968 através do movimento estudantil e os desdobramentos produzidos a partir de seu engajamento em outras ações de resistência face à ditadura civil-militar. Ao longo do ano de 1968 participou de diversas passeatas e assembleias estudantis, estando presente em eventos marcantes como a Batalha da Maria Antônia ocorrida em três de outubro daquele ano. Como estudante da Faculdade de Letras da USP, Leslie morou no Conjunto Residencial da USP, o CRUSP, identificado por ela como o centro nevrálgico do movimento estudantil naquele período. Intensamente vigiado pelos militares, que contavam com o apoio da própria Universidade, o CRUSP foi invadido pelo Exército na madrugada do dia 17 de dezembro de 1968 em uma ação que resultou na prisão de centenas de estudantes. Envolvida nesta operação, Leslie foi detida e fichada pela primeira vez. Pouco depois do ocorrido, recaiu sobre ela uma intensa vigilância por parte da repressão na tentativa de capturar de seu irmão, Gilberto Beloque que, à época, pertencia à direção da Ação Libertadora Nacional (ALN). Leslie viu-se então obrigada a romper com seus vínculos sociais e abdicar de sua própria identidade. Nesse sentido, refletiu sobre os impactos produzidos pela experiência da clandestinidade em sua vida – condição comum a tantos militantes e perseguidos políticos que viveram o período. Como integrante da ALN responsável pela organização do movimento estudantil foi capturada no dia 29 de janeiro de 1970 por agentes do Deops/SP suspeitos de envolvimento com membros do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Sobre sua experiência no Deops/SP, relembrou os interrogatórios e as torturas que sofreu ao lado de sua cunhada Maria Luiza Beloque e um inusitado fato que evidencia a disputa entre os órgãos de repressão da época que consideravam Leslie e Luiza potenciais informantes do paradeiro de Gilberto Beloque. Depois de ser torturada também pelo DOI-Codi/SP, Leslie é encaminhada ao Presídio Tiradentes, onde concluiu sua pena somando quase três anos de prisão. Após a soltura, foi expulsa da USP, o que a levou a cursar Economia na UNICAMP, onde também defendeu o mestrado. Algum tempo depois foi contratada como docente pela PUC-SP, onde leciona até hoje. Leslie refletiu ainda sobre sua experiência ao participar da Comissão da Verdade da PUC, entendendo-o como um processo árduo, porém fundamental, de revisitação ao passado. Por fim, apontou para a importância de o Estado fomentar o debate sobre a memória da ditadura, incentivando amplas discussões em escolas e junto à sociedade brasileira de forma que a problematização desse tema não se restrinja à apenas determinados núcleos da sociedade civil.
Entrevistadores
Luiza Giandalia | Julia Gumieri
Duração (minutos)
79
Operador de câmera
André Oliveira
Local da entrevista
Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo/SP
Como citar
BELOQUE, Leslie Denise. Entrevista sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Luiza Giandalia e Julia Gumieri em 29/09/2017