Dados gerais
Título
Entrevista coletiva com Elza Lobo; Vilma Amaro; Artur Machado Scavone
Código da entrevista
C073
Entrevistados
Data da entrevista
26/04/2014
Resumo da entrevista
Com caráter público e coletivo, os três testemunhos foram colhidos durante a mesa de testemunhos com ex-presos políticos, realizada em um Sábado Resistente. A mediação da mesa foi conduzida por Ivan Seixas, ex-preso político e ativista dos Direitos Humanos, que passou a palavra primeiramente para Elza Ferreira Lobo, que compartilhou suas memórias ao presenciar a chegada dos Freis Dominicanos ao Deops/SP e sobre o convívio com as chamadas presas comuns que dividiam a mesma cela com as presas políticas. Relembrou a solidariedade dos familiares que se desdobravam para garantir a subsistência alimentar dos presos que sofriam com a comida servida na delegacia. Sobre sua estada no Presídio Tiradentes, mencionou os trabalhos manuais realizados dentro do Presídio em cooperativas de mulheres. Essa produção artesanal, que divulgava denúncias e mensagens políticas, deu a estas mulheres o apelido de “bandidas das ideias”, termo elaborado pelos guardas responsáveis pela vigilância interna do Presídio ao tomarem contato com esta produção. Em seguida, falou Vilma Amaro que abordou sua trajetória de militância ligada ao Partido Operário Revolucionário Trotskista (PORT) e ao Movimento Estudantil. Como consequência desta militância, Vilma foi presa em duas ocasiões: durante a realização do 30º Congresso da UNE em Ibiúna em 1968. Este processo resultou em uma perseguição política responsável por sua demissão do Jornal Última Hora, onde atuava como colunista. A segunda prisão, novamente no Deops/SP, ocorreu no ano seguinte no apartamento de uma colega de profissão. A respeito de tais situações, refletiu a conjuntura política do país naqueles anos de chumbo e o clima de delação e perseguição instituídos pela Força Pública. Por fim, a palavra foi passada para Artur Scavone que falou brevemente sobre o contexto geopolítico latino-americanos nas décadas de 1960 e 1970, aprofundando-se na realidade do Brasil pré-golpe e a ostensiva repressão policial inserida no clima de anticomunismo. Deu continuidade, descrevendo sua militância política e sua adesão à proposta de luta armada através da Movimento de Libertação Popular (MOLIPO). Em função de sua militância, enfrentou a repressão passando por diversos cárceres do Estado ao longo de cinco anos de encarceramento. Nesse sentido, refletiu o peso da herança social deixada pela prática institucionalizada da tortura e compartilhou as memórias do período de prisão, abordando suas relações interpessoais e os meios de resistência adotados por ele. Após o fechamento dos testemunhos, a Coleta abriu-se para as perguntas da plateia, suscitando reflexões e trazendo informações complementares à narrativa dos entrevistados.
Entrevistadores
Ivan Seixas
Duração (minutos)
204
Operador de câmera
Sarah Piasentin
Local da entrevista
Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo/SP
Como citar
LOBO, Elza Ferreira; AMARO, Vilma; SCAVONE, Artur Machado. Coleta Pública de Testemunhos sobre militância, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo, entrevista concedida a Ivan Seixas em 26/04/2014.