Entrevista coletiva com Waldemar Rossi; Frei Carlos Josaphat; Magali do Nascimento Cunha; Alberto Kleinas

Resumo da entrevista

A Mesa de testemunhos intitulada “O papel das Igrejas na ditadura”, foi realizada em âmbito público durante a realização de mais um Sábado Resistente. O evento contou com a participação do militante sindical e ex-preso político Waldemar Rossi, do Frei Carlos Josaphat e dos pesquisadores Magali Cunha e Alberto Kleinas, mediados por Anivaldo Padilha, religioso, ex-preso político e defensor dos Direitos Humanos. A fala de Waldemar Rossi destacou a importância do movimento de Ação Católica na formação de uma juventude orientada a exercitar o evangelho em seu meio social. Discorreu sobre a relação de setores da Igreja Católica com alguns movimentos sociais que vigoravam no período ditatorial no Brasil, como as juventudes católicas, a Ação Popular, as Comunidades Eclesiais de Base, a Pastoral Operária e a Oposição Sindical que, segundo o entrevistado, eram regidas tanto pela questão religiosa quanto por uma visão de mundo classista. Nesse sentido, refletiu sobre a ação revolucionária que a Igreja assumiu frente à luta por justiça social. O testemunho de Frei Carlos Josaphat refletiu o contexto anterior ao golpe de 1964 e relatou episódios que trataram sobre seu envolvimento com movimentos sindicais e populares e sobre sua participação na fundação do jornal Brasil Urgente, que dividiu a opinião da Igreja entre aqueles que foram favoráveis e aqueles que se opuseram à criação do mesmo. Devido à resistência de uma parcela da Igreja, Frei Carlos Josaphat se viu obrigado a deixar o Brasil por conta da perseguição à sua militância política. Passada a palavra para a Dra. Magali Cunha, foi apresentado um relato pessoal de sua infância, vivida em um bairro militar do Rio de Janeiro em plena ditadura, e a relação desta experiência com a escolha profissional de jornalista, orientada pela busca da contrainformação. Em seguida, apresentou resumidamente o conteúdo de suas pesquisas que apontam para o papel das igrejas protestantes durante a ditadura civil-militar no Brasil. Contextualizou o momento vivido pelo protestantismo no mundo e no Brasil nos anos 1960 e 1970, marcado por reformulações teológicas que repensavam o papel social das Igrejas e da fé e suas particularidades em relação ao processo vivido pela Igreja Católica. Relatou o envolvimento dos fiéis e seus líderes em diversos movimentos sociais, além das iniciativas solidárias e participação em ações ecumênicas voltadas para a defesa dos perseguidos políticos. Entre estas ações, destacou o Projeto Brasil Nunca Mais, como produção de importância ímpar na história do país. Por fim, tratou sobre casos de delação e apoio direto e indireto às ações da ditadura civil-militar por parte de alguns religiosos. A fala de Alberto Kleinas focou-se na ação de resistência de uma parcela da comunidade judaica de São Paulo frente à repressão, combinando duas referências principais: suas experiências pessoais e sua pesquisa acadêmica sobre a atuação da esquerda judaica. Reconstituiu, através de alguns exemplos, um quadro histórico das correntes de esquerda que se manifestaram no interior das comunidades judaicas da Europa Oriental, onde boa parte das famílias estabelecidas em São Paulo tem origem. Segundo resultado de suas pesquisas, estas famílias teriam levado adiante certas tradições já consolidadas na esquerda judaica que tiveram importância na constituição da esquerda brasileira, na formação do Partido Comunista Brasileiro, e, mais tarde, na consolidação da resistência à ditadura civil-militar. Encerrou seu testemunho, tecendo uma homenagem a alguns representantes dessa comunidade que foram mortos pela repressão política, a exemplo do caso de Vladimir Herzog.