A obra audiovisual apresenta comentários publicados em redes sociais sobre ações policiais na região conhecida como “Cracolândia”
O Memorial da Resistência de São Paulo inaugura no dia 17 de junho a ocupação Odiolândia (2017), de Giselle Beiguelman. Apresentada pela primeira vez no museu, a exposição faz parte do programa Ocupações Memorial, que articula diálogos transdisciplinares sobre a memória dos períodos autoritários no país e suas reverberações no presente.
O trabalho apresenta comentários publicados em redes sociais sobre as ações da Prefeitura de São Paulo e do Governo do Estado na região conhecida pejorativamente como “Cracolândia” – no bairro da Luz e vizinhança do Memorial da Resistência – junto a trechos de áudios extraídos de vídeos postados na internet por participantes e apoiadores das ações realizadas entre 21 de maio e 9 de junho de 2017.
Majoritariamente favoráveis ao uso da força e de armas de fogo contra os usuários abusivos de drogas da região, os comentários expressam também o desejo de ver as mesmas políticas de violência estendidas a outros grupos, como nordestinos, sem-terra e pessoas LGBT+’s. Os comentários são apresentados de forma bruta, sem imagens, tendo como única interferência a retirada de conteúdos eleitorais das mensagens.
Apresentado no museu onde funcionou, por mais de quatro décadas, o Deops/SP, uma das polícias políticas mais truculentas da Ditadura Civil-Militar (1964-1985), Odiolândia nos provoca a refletir sobre como a cultura do ódio e da intolerância, tão marcantes nos períodos ditatoriais, se reconfiguram e ainda permeiam o tecido social brasileiro.
Como parte da abertura da ocupação, no dia 17, a partir das 14 horas, o Memorial da Resistencia realiza mais um Sábado Resistente em parceria com o Núcleo Memória. Com o tema Extremismos na contemporaneidade: cultura do ódio e intolerância nas redes sociais, o encontro debaterá a obra e os crescimento dos discursos de ódio no ambiente digital, com a participação da artista Giselle Beiguelman, do psicanalista Christian Dunker, e da jornalista e Diretora Executiva da Agência Pública, Natália Viana.
Sobre Giselle Beiguelman
São Paulo – SP, 1962, vive e trabalha em São Paulo.
Artista e professora da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade de São Paulo (FAUUSP). Pesquisa arte e ativismo na cidade em rede e as estéticas da memória. Em seus trabalhos mais recentes investiga o imaginário do colonialismo na história da arte com recursos de Inteligência Artificial. É autora de Políticas da imagem: vigilância e resistência na dadosfera (UBU Editora, 2021), entre outros.