Como marco dos 60 anos do Golpe Militar brasileiro, a Pinacoteca de São Paulo, em parceria com o Memorial da Resistência, abriu no dia 6 de abril, às 11h, a exposição SOL FULGURANTE: Arquivos de vida e resistência, com curadoria de Lorraine Mendes. Em cartaz até 18 de agosto de 2024 no 2º andar da Pina Estação, a mostra busca construir diálogos sobre o estado de exceção a partir dos acervos artísticos e documentais de ambas as instituições.
A mostra acontece no edifício que sediou até 1983 o Deops/SP — Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo —, que atuava como aparelho de repressão política do Estado e onde inúmeras pessoas foram presas e torturadas durante a Ditadura Civil-Militar (1964–1985), e hoje é ocupado pelo Memorial da Resistência de São Paulo e Estação Pinacoteca.
A exposição conjunta parte da Coleção Alípio Freire, que reúne trabalhos de ex-presos políticos dos presídios de São Paulo durante o período ditatorial, reunidos por Alípio Freire e Rita Sipahi, doado ao do Memorial da Resistência. Estes documentos dialogam com obras contemporâneas feitas por pessoas em situação de cárcere, dentre outros artistas que refletem as reverberações do estado de exceção estabelecido há 60 anos ainda no presente. As visitas mediadas terão um caráter histórico, sendo ministradas pelo Núcleo de Ação Educativa do Memorial da Resistência.
Durante a abertura, o artista Marcel Diogo realiza a performance Nem tudo que vai na parede é obra de arte, e o Memorial da Resistência e o Núcleo Memória promovem um Sábado Resistente especial sobre a exposição, com participação da curadora e ex-presos políticos.
Acervos e coleções da exposição
A Coleção Alípio Freire é formada por pinturas, desenhos, colagens e gravuras, realizadas em diferentes presídios da cidade de São Paulo, como Tiradentes, Carandiru, Penitenciária Feminina, Hipódromo, Presídio Militar Romão Gomes (Barro Branco) e no próprio Deops/SP, durante os anos 60 e 70. O acervo com mais de 300 obras foi reunido ao longo de anos pelo jornalista Alípio Freire (in memorian) e pela advogada e esposa de Alípio, Rita Sipahi, ambos ex-presos políticos, e foi doado em 2023 por Rita ao Memorial da Resistência de São Paulo. Parte dessas obras abrem a exposição.
Esta coleção se conecta a outros três acervos. Do acervo da própria Pinacoteca de São Paulo, são destaques as obras A Corda (1967) de Neide Sá, que será apresentada em nova configuração, e Desdobramentos (2017), de Jefferson Medeiros.
Já o coletivo Mulheres Possíveis apresenta projeto artístico multidisciplinar desenvolvido pelas artistas Beatriz Cruz, Leticia Olivares, Sandra Ximenez e Vânia Medeiros em colaboração com mulheres em situação de cárcere na Penitenciária Feminina da Capital desde 2016. O acervo traz visibilidade para a situação do cárcere nos dias atuais, tendo a narrativa do corpo como centro da experiência. Na exposição o público poderá ver as imagens produzidas por mulheres em privação de liberdade durante as oficinas do projeto e que resultaram na publicação Mulheres Possíveis- corpo, gênero e encarceramento em 2019.
Por fim, o acervo Bajubá, projeto comunitário de registro de memórias das comunidades LGBT+ brasileiras, reúne uma coleção de itens que registram a diversidade sexual e a pluralidade de expressões e identidades de gênero no país também no período militar. Parte desse arquivo poderá ser visto na exposição.