A militante foi liderança do movimento das Mães da Praça de Maio, que denunciou sequestros, torturas e desaparecimentos pelas mãos da ditadura militar argentina
Hebe de Bonafini, militante política argentina e líder da Associação das Mães da Praça de Maio, morreu no último domingo (20) aos 93 anos. Hebe teve dois filhos e uma nora sequestrados em La Plata (AR) pela ditadura argentina (1976-1983) — Jorge Omar, Raul Alfredo e Maria Elena Cepeda — e fez da luta por memória, verdade e justiça a causa de sua vida.
Sua revolta e de outras mães culminou na primeira marcha contra o governo, em frente à Casa Rosada, no dia 30 de abril de 1977, dando início ao movimento das Mães da Praça de Maio. O movimento denunciou sequestros, torturas e desaparecimentos de filhos e filhas pelas mãos da repressão da ditadura militar argentina, que deixou mais de 30 mil mortos.
A luta das Mães de Maio ecoou internacionalmente, e mais de 45 anos depois, ultrapassa mais de 2 mil marchas. Em São Paulo, no dia 22 de agosto de 1980, mulheres vestindo panos brancos se reuniram na Praça Ramos de Azevedo em memória dos desaparecidos políticos na Argentina e no Brasil.
Os panos brancos se tornaram símbolo das Mães e das Avós da Praça de Maio a partir de uma procissão ao Santuário de Luján, em 1977, como estratégia para as mães de pessoas desaparecidas se reconhecerem e se diferenciarem na multidão. A cor branca era uma forma de se opor ao preto, que simbolizava o luto por falecimento do familiar. Ao final da ditadura, eles passaram a ser bordados com diferentes consignas, como “Aparição com vida dos desaparecidos” e “Prisão para os genocidas”.
“Esta praça serve para isso: para gritar, denunciar, dizer, falar, sonhar. É muito bonito sonhar. Devemos fazer as coisas com alegria e amor. A revolução se faz com amor, não somente com armas”, defendia Hebe. O grupo continua se reunindo há quatro décadas na mesma praça, sempre às quintas-feiras, às 15h30.