Largo General Osório, 66
Santa Ifigênia, São Paulo, SP
Telefone: 55 11 3335-5910
Entrada Gratuita
Aberto de quarta a segunda (fechado às terças), das 10h às 18h
faleconosco@memorialdaresistenciasp.org.br


EDITAL MEMÓRIAS DO PRESENTE

Baile na favela do maranhão: políticas do prazer e territórios em desaparecimento

Por Thaís Regina, Rodrigo Corrêa e Vanessa Mendes

Era 1966 quando Vera Lúcia, minha tia, atravessou a Favela do Maranhão e foi no baile do Pau Queimado, na zona leste. Tocava muito Ray Conniff, Tim Maia, Wilson Simonal e, claro, a Jovem Guarda. Pernambucana, Vera chegou em São Paulo com cinco anos e cresceu na Favela do Maranhão, entre a favela do Pau Queimado e o clube do Corinthians, no Parque São Jorge. De súbito, a música parou. Quando Vera olhou para cima, viu o barranco acima da garagem onde acontecia o baile cheio de policiais armados. “Homens para um lado, mulheres pro outro”. Todos foram revistados, um a um. Acabou a festa.

Com dezessete anos, Vera já tinha se acostumado com o movimento dos policiais na favela. De doze em doze horas, um caminhão estacionava com oito policiais, que faziam ronda dentro a pé por dentro da favela até o próximo turno. Qualquer pessoa sem carteira de trabalho era caso de delegacia. Em 1974, a favela foi removida. Minha família pegou três meses de aluguel com o Banco Nacional de Habitação e foi para Itaquera. Lá, Vera deixou de ser empregada doméstica e entrou nas fábricas. Ali perto, um movimento operário surgia.

Nos anos 1970, enquanto o estado autoritário transformava a paisagem de São Paulo com grandes obras arrasadoras, despontavam pela cidade movimentos de luta por moradia, como o Movimento de Defesa dos Favelados, e os teatros operários, como o Grupo Forja. Com apresentações no chão de fábrica, o teatro engajado escapava da censura pelo seu amadorismo e se valia disso para apresentar peças como “Eles não usam black-tie” nas reuniões dos sindicatos.

Em um especial de três episódios publicado colaborativamente no podcast Balanço e Fúria, atravessamos a remoção das favelas e o redesenho urbano de São Paulo pelo olhar dos trabalhadores e sua efervescente produção cultural, dentro e fora das fábricas, refletindo sobre modos de habitar a cidade e vínculos que se estendem a partir da moradia, dos bailes ao teatro. Através da história oral, consulta de arquivos e acervos comunitários, essa reportagem especial busca a história a contrapelo do urbanismo durante a ditadura militar.

A série Baile na favela do maranhão: políticas do prazer e territórios em desaparecimento é resultado da quarta edição do edital Memórias do Presente: Comunicação em Direitos Humanos, que teve como tema Ditadura e Metrópole: Direito à cidade e o redesenho urbano de São Paulo.

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