Dados gerais
Título
Entrevista com Celso Curi
Código da entrevista
C197
Entrevistados
Data da entrevista
30/01/2024
Resumo da entrevista
O entrevistado inicia a entrevista relatando sua infância na várzea da Barra Funda, em São Paulo. Narra a sua curiosidade pelas transformações culturais do final da década de 1950 e início de 1960 e o seu hábito de frequentar o cinema. Conta que, logo após o golpe de 1964, sua família mudou-se para o interior de Santa Catarina. Aponta que seu pai não tinha uma atividade política forte, mas que havia ajudado um primo da família e sua esposa a sair do Brasil, pois estava sendo perseguido. Sua família estabeleceu-se, então, em Ituporanga, Santa Catarina. Relata que, ao retornar para São Paulo, com 15 anos de idade, em uma dessas idas ao cinema na Avenida Rio Branco, caminhou até a Galeria Metrópole. Ele aponta que este lugar mudou a sua vida, pois permitiu o seu acesso a pessoas da cultura, do jornalismo e das artes de São Paulo. Relara que a única coisa que o interessava na vida escolar era participar do grêmio. Na Galera Metrópole, conheceu seu primeiro namorado, José Cláudio Peixoto Medes, que lhe apresentou pessoas influentes na cena cultura, entre elas Guilherme Araújo, de quem se tornou secretário. Narra como era a efervescência cultural na Galeria Metrópole e em seus arredores, no final dos anos 1960. Conta que encontrou um espaço seguro para viver a sua sexualidade no mundo das artes. Conta que viveu brevemente no Rio de Janeiro com Guilherme, mas retornou para São Paulo para trabalhar com Juca Chaves. Conta que, após a promulgação do AI-5, começou a compreender com mais clareza o cenário político da ditadura. Em 1972, enquanto trabalhava com Juca Chaves, relata que foi avisado pela zeladora do prédio onde vivia que tinha sido procurado. No dia seguinte, saiu do Brasil, exilando-se em Munique, Alemanha Ocidental. Relata que era colaborador da luta armada, realizando tarefas de apoio, o que lhe deu acesso a informações sobre a repressão. Conta que viveu durante um ano na Alemanha e o que seu retorno ao Brasil se deu quando perdeu seu passaporte. Relata as medidas de segurança tomadas para retornar ao país. Conta que decidiu ficar no Brasil após receber um convite de trabalho do jornalista Samuel Wainer, no jornal “Última Hora’. Conta que, com exceção dos dois amigos que o receberam, não havia outros brasileiros exilados em Munique. Relata como era a vida gay na cidade e as diferenças entre as liberdades experimentadas lá e o contexto brasileiro. Descreve alguns espaços de sociabilidade que conheceu em São Paulo, entre o final dos anos 1960 e início dos anos 1970: Entende’s Bar, K7, Hi-Fi, Gay Club Odeon. Relata como era a Medieval, os espetáculos, as festas temáticas. Conta alguns termos utilizados na época para se referir a pessoas e relações homossexuais. Narra a criação da Coluna do Meio, em 1976, voltada para leitores homossexuais, o processo de produção das colunas diárias e sua repercussão. Conta sobre o processo aberto em 1976 pelo Ministério Público que o acusou de violação à moral e aos bons costumes, devido à publicação da Coluna do Meio, e sobre sua prisão por porte de cocaína. Aponta as contradições do processo de abertura política no Brasil, iniciado no final dos anos 1970, devido à continuidade da perseguição a pessoas dissidentes de sexo e de gênero. Relata o processo de abertura de sua casa noturna, a Off, e como era o seu funcionamento, entre 1979 e 1992. Reflete sobre a relação entre sair à noite durante a ditadura e a resistência ao regime. Recorda algumas figuras da noite homossexual de São Paulo. Conta a sua relação com a equipe do Lampião da Esquina e com o Somos: Grupo de Afirmação Homossexual. Reflete acerca de suas percepções sobre o final da ditadura. Narra a importância da conquista da despatologização da homossexualidade. Conta os efeitos da epidemia de HIV/Aids na vida noturna e na cena cultural de São Paulo. Contra suas experiências com batidas policiais em locais para homossexuais em São Paulo. Conclui a entrevista refletindo sobre a importância de compartilhar e registrar suas memórias.
Entrevistadores
Marcos Tolentino, Angel Natal e Julia Gumieri
Duração (minutos)
121
Operador de câmera
Nael Souza
Local da entrevista
Memorial da Resistência de São Paulo
Como citar
Curi, Celso. Entrevista sobre gênero, resistência e repressão durante a ditadura civil-militar. Memorial da Resistência de São Paulo. Entrevista concedida a Marcos Tolentino, Angel Natal e Julia Gumieri , em 30/01/2024, por meio da parceria com o Acervo Bajubá.
Assuntos: Eventos
Assuntos: Lugares
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