Entrevista com Manoel Cyrillo de Oliveira Netto

Resumo da entrevista

Em sua terceira sessão de entrevista concedida ao Programa Coleta Regular de Testemunho, Manoel Cyrillo colaborou com a elaboração do conteúdo para a exposição temporária “Política F.C. O futebol da ditadura”. Nesta oportunidade, falou sobre sua relação com o futebol refletindo, sobretudo, o ano de 1970 quando o Brasil, presidido pelo então ditador Emílio Garrastazu Médici, conquistou o tricampeonato. Em sua militância dentro da Ação Libertadora Nacional (ALN), Cyrillo assumiu o codinome de Benê, nome do centroavante do Corinthians, time pelo qual torce desde a infância. No entanto, a vida atribulada de militante fez com que o futebol passasse a ser acompanhado com mais distanciamento. De acordo com o entrevistado, a ditadura legou ao esporte uma marca histórica negativa, que envolve a violência institucionalizada dentro e fora dos campos e transformou-o em instrumento a serviço do capitalismo, apontando João Havelange como homem símbolo desta degradação. Todos estes aspectos o levaram a um profundo desencantamento pelo futebol, que, segundo ele, é hoje sustentado por um esquema corrupto e milionário ligado à mídia esportiva e outras organizações. A respeito da participação do comunista João Saldanha à frente da Seleção Brasileira, prestou seu reconhecimento, identificando-o como um indivíduo de notável decência política e resistente exemplar. Em contrapartida, relembrou à subserviência de Zagallo e seu apoio à manutenção da campanha do falso “Milagre Econômico” entoado através do mote publicitário “Pra Frente Brasil”. Durante a Copa de 1970, Cyrillo, que se encontrava preso no Tiradentes, declarou ter torcido contra a seleção, encarando esta escolha como uma atitude de resistência atrás das grades.