Corra e olhe o céu

EDITAL MEMÓRIAS DO PRESENTE

POR NAHAYANNA SORGON E LUIZA GUERRA

Marília Guimarães, professora, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), tinha 22 anos quando sequestrou o avião Caravelle, em janeiro de 1970. O objetivo era chegar até Cuba com mais cinco companheiros de luta, onde conseguiriam asilo político.

Depois de presa pela Ditadura Civil Militar (1964-1985), Marília estava na clandestinidade há mais de um ano. Para despistar os militares, precisava fugir diariamente, com dois filhos bebês. Nessa situação, a ideia de fazer o sequestro do Caravelle parecia menos perigosa do que correr o risco de voltar à prisão e à tortura (e deixar os filhos sob custódia dos militares).

Marília entrou no avião munida de seis revólveres escondidos embaixo da roupa, além da bagagem e com as crianças no colo. No entanto, além da tensão em realizar o sequestro do voo, Marília e os outros militantes da VPR tiveram de enfrentar um desafio ainda maior: o avião teve uma série de panes e problemas mecânicos, falta de combustível e de peças essenciais. Foi necessário parar em 04 países diferentes e fazer negociações diplomáticas durante dias com ditaduras militares latino-americanos, sendo tratados como terroristas, para conseguir chegar até o aeroporto de Havana.

Corra e olhe o céu, podcast criado por Nahayanna Sorgon Anholeto, conta em três episódios a história de Marília. O podcast explora o contexto militante da época, trazendo testemunhos de diversas mulheres, mostrando que as violências sofridas por elas estavam ligadas diretamente ao fato de serem mulheres e, em muitos casos, mães.

A produção é resultado do Memórias do Presente: Comunicação em Direitos Humanos, edital realizado pelo Memorial da Resistência dedicado ao fomento de pesquisas e conteúdos jornalísticos voltados à preservação e à difusão das memórias sobre a Ditadura Civil-Militar (1964–1985).