Largo General Osório, 66
Santa Ifigênia, São Paulo, SP
Telefone: 55 11 3335-5910
Entrada Gratuita
Aberto de quarta a segunda (fechado às terças), das 10h às 18h
faleconosco@memorialdaresistenciasp.org.br


Lesbianidade em tempos verde-oliva

Numa travessa das memórias de Cristina

POR JULIA KUMPERA

O Ferro’s Bar é um dos melhores exemplos de má decoração que existem em São    Paulo. Chão amarelo não muito limpo, de cacos de cerâmica; paredes com azulejos    azuis até a metade e terríveis pinturas multicoloridas na parede superior; enfeites        de gesso creme que certamente conheceram melhores tempos; e colunas revestidas             em baixo de fórmica branca, no meio de fórmica azul, no alto de pastilhas espelhadas. Isso é compensado pela comida, boa – embora um pouco oleosa – e relativamente barata. Em outras épocas, foi reduto de jornalistas, escritores e prostitutas; depois, de homossexuais masculinos; finalmente, de lésbicas. 

“A noite em que as lésbicas invadiram seu próprio bar”, Carlos Brickmann, Folha de São Paulo, 21 de agosto de 1983, Caderno 3, p. 27. 

Foi com essas palavras que o jornalista Carlos Brickmann descreveu o espaço do Ferro’s Bar, local conhecido por ser um bar com alta frequência de lésbicas na cidade de São Paulo. Elas buscavam um lugar onde pudessem se expressar, conhecer outras mulheres ou simplesmente comer uma pizza com as amigas. 

Nos anos 1980 o Ferro’s Bar integrava um circuito de bares e boates da região central de São Paulo que foram importantes lugares de sociabilidade lésbica e gay. No entanto, essa circulação de pessoas incomodou os comerciários locais e a polícia. Rondas policiais se tornaram frequentes na região, principalmente sob a atuação do delegado Wilson Richetti, que dizia ter vontade de fazer uma verdadeira “limpeza” no centro da cidade.

Panfleto organizado pelos movimentos sociais convocando ao ato contra a violência policial, realizado nas escadarias no Teatro Municipal em 13 de junho 1980. Arquivo Edgard Leuenroth.

No episódio de podcast Numa travessa das memórias de Cristina, Julia Kumpera conversa com Cristina Calixto, ex-ativista do Grupo Lésbico Feminista. Ela narra suas experiências na capital no início da década de 1980 e compartilha memórias e reflexões sobre sociabilidade lésbica e violência policial na capital. 

O projeto Cartografia do Brejo, que foi comentado no episódio, pode ser acessado aqui

*O episódio faz parte da série de reportagens especiais “Lesbianidade em tempos verde-oliva: políticas repressivas e sociabilidade lésbica“, selecionada pelo edital Memórias do Presente: Comunicação em Direitos Humanos com o tema “Ditadura e Gênero”.

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