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EDITAL MEMÓRIAS DO PRESENTE

Lesbianidade em tempos verde-oliva: políticas repressivas e sociabilidade lésbica

POR JULIA KUMPERA

Durante seus 21 anos de duração, a ditadura civil-militar implementou políticas repressivas que impactaram as vidas, a militância e os sonhos de uma ampla gama de pessoas. Não só os guerrilheiros e militantes de partidos políticos de esquerda sofreram as consequências do autoritarismo, outros grupos sociais, como as lésbicas, também tiveram suas vidas atravessadas pelo regime que se instaurou a partir de 1964. Como foi ser uma lésbica vivendo no período? A ditadura impôs condições mais duras do que as já existentes à época para se viver a lesbianidade? 

Políticas autoritárias executadas por órgãos da repressão, como a vigilância e a violência policial, demonstram que os militares se preocuparam com a sexualidade, o comportamento e a moral. Relatórios de investigação, discursos militares, pareceres censórios e outros documentos registram os pânicos morais dos agentes da ditadura e a associação entre sexo, drogas e comunismo. Para eles, a subversão era política, sexual e moral. 

Em São Paulo, bares da região central se tornaram locais de sociabilidade lésbica. Neles era possível viver a lesbianidade com menos medo e construir redes de afeto. No entanto, esses espaços também foram alvos da repressão da ditadura. O mais conhecido deles, o Ferro’s Bar, é hoje um lugar de memória lésbica na cidade. Foi lá onde ocorreu a Operação Sapatão, uma batida policial que prendeu mais de uma centena de pessoas, e a primeira manifestação pública e política das lésbicas, durante a ditadura, poucos anos depois. O Ferro’s Bar é símbolo de repressão e resistência.      

A série de reportagens especiais Lesbianidade em tempos verde-oliva estabelece conexões entre políticas repressivas, discursos sobre a lesbianidade e sociabilidade lésbica em São Paulo durante a ditadura civil-militar. Com isso, evidenciamos que o projeto societário dos militares se baseava em um modelo heteropatriarcal e com um propósito profundamente conservador e moralista. 

As lésbicas, por não estarem incluídas no modelo defendido pelo Estado, foram perseguidas. Sua existência foi repreendida institucional e socialmente. Contrariando as expectativas, elas ousaram sonhar com outros mundos possíveis. Tiveram coragem para construí-lo. As reportagens trazem à tona esses embates.  

*A série de reportagens especiais “Lesbianidade em tempos verde-oliva: políticas repressivas e sociabilidade lésbica“ faz parte do edital Memórias do Presente: Comunicação em Direitos Humanos com o tema “Ditadura e Gênero”.

Governo do Estado de SP