MEMORIAL RECEBE
Memória dos Movimentos de Resistência na França (2016-2023)
Entre as possíveis estratégias de reivindicação e expressão políticas, as mobilizações coletivas no espaço público permanecem como uma das formas mais essenciais de valorização da democracia. É com esse olhar que o Memorial da Resistência recebe, no contexto do Ano Cultural Brasil–França 2025, o projeto Memória dos Movimentos de Resistência na França Hoje, apresentando um conjunto visual e documental sobre o engajamento de brasileiras e brasileiros nas ruas de Paris, ao longo da última década.
Fruto de um essencial trabalho de organização e preservação empreendido pela Associação Memória da Resistência Brasileira na França (2016–2023), o arquivo aqui reunido inclui fotografias, cartazes, panfletos, documentos textuais e registros audiovisuais de atos públicos que transitam entre a manifestação e a performance político-artística, constituindo uma rede de denúncia transnacional que atravessa fronteiras para a defesa de direitos fundamentais e da vida democrática no Brasil.
Os conteúdos, organizados em seis períodos temáticos, propõem uma leitura cronológica de ações realizadas desde 2016, em estreito diálogo com mobilizações semelhantes no Brasil, para evidenciar conexões, continuidades e transformações no debate público. Longe de configurarem gestos isolados, elas revelam como a luta e a construção de uma memória social podem atravessar fronteiras nacionais, mesmo em momentos de polarização política e recrudescimento do autoritarismo.
Desenvolvidas em rede, de forma horizontal e coorganizada, essas ações envolveram inúmeros coletivos engajados na articulação de pautas comuns e na produção de registros. Entre vídeos e fotos de celular, newsletters e notícias de jornais, os materiais ampliam o escopo das práticas arquivísticas contemporâneas ao incorporar conteúdos gerados em fluxo, muitas vezes por sujeitos não institucionalizados, em contextos de urgência e ação direta.
Ao acolher este projeto, o Memorial da Resistência reafirma seu papel na preservação das múltiplas formas de luta política e na promoção dos direitos humanos. Reconhece, ainda, que a cidadania se expressa também em deslocamento, e que as práticas transnacionais constituem um importante repertório em defesa da justiça social e das liberdades democráticas.
Sobre a Memória dos movimentos de resistência na França (2016-2023):
A luta pela democracia entre 2016 e 2023, mobilizou a diáspora brasileira no exterior. Ao longo desse tempo, diversos coletivos apartidários foram se constituindo, de maneira espontânea e com funcionamento horizontal, para denunciar, junto à comunidade internacional, os ataques ao Estado de Direito no Brasil. Com o apoio de partidos progressistas, sindicatos, organizações da sociedade civil e cidadãos franceses solidários, tais grupos realizaram manifestações, flash mobs, intervenções político-artísticas, caravanas, abaixo-assinados, entrevistas, debates, livros e documentários, dentre uma multiplicidade de ações para chamar a atenção sobre a escalada do autoritarismo em nosso país.
A fim de preservar essa memória, em meados de 2023, uma Associação foi criada em Paris, com o objetivo de recolher, organizar, identificar e difundir o material produzido pelos grupos e indivíduos engajados na causa. Para melhor exibir essa trajetória de combate e resistência, seus curadores desenvolveram uma linha do tempo dividida em seis momentos cruciais de nossa história recente: “No Brasil e na França, uma luta comum”; “Nenhum Direito a Menos”; “Lawfare”; “Pas Lui”; “Pelo Estado de Direito”; “Democracia em perigo”.
O vasto corpus documental — composto de fotos, vídeos, convites para eventos, panfletos, releases, atas, newsletters, bem como entrevistas e artigos publicados na imprensa — está agora à disposição do público. Isso, graças à parceria com o Memorial da Resistência de São Paulo, cuja equipe técnica teve a sensibilidade de reconhecer a importância do presente resgate. A eles, nosso muito obrigado. Também agradecemos os coletivos, grupos ou indivíduos que colaboraram no projeto. Eles foram fundamentais para chegarmos a esse resultado final, que ainda pode se desdobrar em outras propostas culturais ou artísticas.
Núcleo coordenador da Associação Memória da Resistência Brasileira na França (2016–2023)
Grupos atuantes

Amigos e Amigas do MST do Brasil e da Escola Nacional Florestan Fernandes
Operante desde 2014, em Lyon, a associação surgiu de um coletivo existente desde o massacre de Eldorado dos Carajás (1996). Apoiada pela ONG católica francesa Irmãos dos Homens, organiza eventos, debates e visitas para conectar o MST com movimentos sociais franceses. Atua na promoção da agroecologia, soberania alimentar e direitos dos trabalhadores rurais, além de arrecadar fundos para a Escola Nacional Florestan Fernandes. Possui membros em Grenoble, Bretanha e na região parisiense.

Associação Oyá de Arte e Cultura Afro-Diaspórica
Voltada à preservação da cultura afro-brasileira e da diáspora africana, promove atividades artísticas e educativas para uma sociedade mais unida e antirracista. Oferece aulas de capoeira angola, oficinas de dança e expressão corporal, além de debates e cursos com mestres da cultura afro-brasileira. Presidida por Aline do Carmo, tem como tesoureiro Stéphane Munnier.

Associação Femmes de la Résistance
Desde 2017, presta apoio a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica e em situação de vulnerabilidade. Atua na mediação de conflitos e na defesa da dignidade social, moral e física de grupos marginalizados. Desde 2019, participa da manifestação cultural Lavagem da Madalena, homenageando figuras femininas de luta.

Alerta França Brasil
Articulado em 2017 para enfrentar os ataques à democracia brasileira. Realiza manifestações, petições e intervenções artísticas, além de denunciar a destruição da Amazônia, genocídio indígena e políticas ultraliberais no Brasil. Foi ativa no Comitê Lula Livre e teve papel fundamental no apoio a Lula nas eleições de 2022 na França.

Coletivo Palmares
Fundado em 2018, em Bordeaux, durante protestos contra a ascensão da extrema direita no Brasil. Após a eleição de Jair Bolsonaro, organizou-se para denunciar ataques ao Estado de Direito e lutar pela democracia e liberdade de expressão.

Coletivo de Solidariedade França-Brasil
Grupo estruturado em 2016 pelo PT de Paris, o Partido Comunista Francês e o MST, denunciou o impeachment de Dilma Rousseff como um golpe institucional. Reuniu diversos partidos e movimentos franceses e latino-americanos, promovendo atos e conferências sobre a crise política brasileira.

Comitê Internacional de Solidariedade com Lula e pela Defesa da Democracia no Brasil (Comitê Lula Livre)
Criado em 2018 no Fórum Social Mundial em Salvador, Bahia, sob liderança de Celso Amorim, o comitê teve apoio de diversas organizações brasileiras e internacionais. Coordenou ações para denunciar a prisão política de Lula, mobilizando intelectuais e ativistas ao redor do mundo.

Comitê Popular de Luta
Datado de 2022, após o lançamento da pré-candidatura de Lula, reuniu militantes brasileiros e franceses em Paris. Organizou eventos e mobilizações para fortalecer a campanha de Lula na França, resultando em sua vitória expressiva no país.

Julio Villani
Artista brasileiro radicado em Paris desde os anos 1980, foi uma voz ativa na resistência ao governo Bolsonaro. Em 2020, afixou painéis de protesto na fachada da Embaixada do Brasil, em Paris inspirando outros coletivos a realizar intervenções artísticas semelhantes.

Núcleo do PT Paris
Desde os anos 1990, representa petistas na França e fortalece laços com partidos e movimentos sociais franceses. Coordenou a pré-candidatura de Lula em 2022, organizou campanhas eleitorais e fiscalizou votos no exterior, garantindo a vitória de Lula entre os eleitores brasileiros na França.

Núcleo 7 de Abril do PT-Paris
Fundado logo após a prisão de Lula, combateu as fake news da Lava Jato e organizou atos contra a violência racial e o assassinato de Marielle Franco. Em 2019, coordenou a Caravana Lula Livre Europa, levando denúncias sobre a prisão de Lula à ONU, Parlamento Europeu e Conselho da Europa.

MD18 (Movimento Democrático 18 de Março)
Criado em 2016 por estudantes, jornalistas e artistas brasileiros na França, denunciou o impeachment de Dilma Rousseff e alertou sobre a ameaça da extrema direita. Com a saída de seus membros do país, uniu-se ao Alerta França Brasil para continuar a luta democrática.

Comitê Libérez Lula
Reuniu coletivos para lutar pela libertação de Lula, organizando manifestações e campanhas internacionais. Apoiou a publicação da versão francesa do livro A Verdade Vencerá e fortaleceu a solidariedade transnacional em defesa da democracia.

Autres Brésils
Criada em 2002, divulga informações sobre o Brasil em francês, promovendo debates, eventos culturais e o festival de cinema Brésil en Mouvements. Criou o Observatório da Democracia Brasileira e articulou a Coalizão Brasil Solidário, reunindo 17 organizações francesas para monitorar a situação política brasileira.

Coletivo Leitoras de Paulo Freire na França
Estruturado em 2019, promove estudos sobre o educador, incentivando práticas pedagógicas inspiradas em sua obra. Organiza o Piquenique com Paulo Freire no Jardim Marielle Franco, evento anual que reforça o compromisso com a educação crítica.

Coletivo Ubuntu
Ativo de 2018 a 2021, reuniu cineastas brasileiros e franceses para produzir filmes militantes sobre a política brasileira. Criou o Cine Club Ubuntu e deu origem à Associação Cine Nova Bossa, voltada à produção audiovisual engajada.

Rede Europeia para a Democracia no Brasil (Red.br)
Fundada em 2019 por acadêmicos e artistas, desenvolveu eventos e campanhas em defesa da democracia brasileira. Destacam-se a inauguração do Jardim Marielle Franco em Paris e a visita de Lula, Dilma e Haddad à França. Suspendeu suas atividades públicas em 2022.

Coletivo Marielle Franco
Concebido após o assassinato da vereadora em 2018, organizou manifestações e eventos para cobrar justiça pelo crime. Contribuiu para a criação do Jardim Marielle Franco próximo à Gare de l’Est, homenagem oficial da Prefeitura de Paris à ativista.
Instituições francesas parceiras, imprescindíveis ao longo da luta dos brasileiros pela preservação dos valores democráticos:
CGT (Confédération Générale des Travailleurs) Île de France
Cuba Libre (Association France Cuba)
FAL (France Amérique Latine)
France Insoumise
Fondation Jean Jaurès
Parti de Gauche
POI (Parti des Ouvriers Indépendents)
POID (Parti des Ouvriers Indépendents Democratique), à l’heure actuelle Parti des Travailleurs
PCF (Parti Communiste Français)
Ficha técnica
Curadoria
Marcia Camargos
Solange Cidreira
Gabriella Scheer
Texto
Marcia Camargos
Solange Cidreira
Tradução para o francês
Gabriella Scheer
Colaboração no projeto (em ordem alfabética)
Ana Bravo Lachaux
Ana Lúcia Freitas
Angélica de Morais
Benoît Martin
Claudia Candido
Daniela Cruz Castro
D’Austria Vieira
Dominique Ferré
Filipe Galvon
Joana Nina Ferreira
João de Mello
Liliane Mutti
Maria Luiza Lapa de Souza
Maria Luisa Souto Maior
Rebeca Rô Lang
Rute Brandão
Silvia Capanema
Véronique Ballot
Agradecimentos
Aline de Campos
Arleide Lira
Bettine Zalcberg
Bruno Falci
Daniel Zarvos
Denise Ramos Guimarães
Duda Tawil
Erika Campelo
Fátima Bosch
Felipe Camargos Sacchetta
Florence Poznanski
Fred Lyra
Henri Blotnik
Jean Bernard Soudères
Jean-Pierre Guis
Jorge Ruffini
Luciana Gransotto
Maria Bernadette Entratice
Maria José Malheiros
Maud Chirio
Monique Piot Murga
Paula Sacchetta
Roberta Nunes
Sueli Mathé
Suzete Lima
Taciana Brito
Vanessa Oliveira
Fotos e vídeos
Fotos e vídeos: quando não estiverem devidamente creditados, fazem parte do arquivo das curadoras, ou foram retirados das páginas Facebook e sites dos grupos citados.
Parceiros
Aliança Francesa – Salvador
Casa Rosa – Salvador
Festival Jangada – Paris
Maison de l’Amérique Latine – Paris
Realização
Memória da Resistência Brasileira na França (2016-2024)
